Sunday, March 01, 2009

Bem vindo à vida!

Uma das coisas mais interessantes da vida é que ela nos leva a lugares diferentes. Cada lugar tem suas características peculiares, seus atrativos ou seus repulsivos.
Um dos que menos gosto é hospital. Via de regra, ninguém vai fazer um passeio lá, se divertir, descontrair, pois ali não é lugar de lazer.
Por maior que seja a hospitalidade, os hospitais representam lugares doentios, onde por vezes até se disseminam males por entre as pessoas. Pois lá estava a aguardar notícias.
Como é dura a espera, como pode ser difícil a expectativa, porque pode destruir a esperança e aniquilar num só instante todos os planos e projetos.
Naquela alvorada nascente, cujo testemunho adentrava o ambiente acinzentado pelas frestas das janelas, assentados, sem palavras, imersos no silêncio de ninguém, os pensamentos navegavam pelos portos do passado, buscando embarcar as emoções do momento e ancorar nos planos, amplamente discutidos, para o futuro daquele que estava por chegar.
Os filhos são, realmente uma herança, um rico presente, d'Aquele que outorga a vida e as possibilidades da sua construção.
Como é bom receber boas noticias! Meses antes a informação da gravidez adentrou nossas vidas e as modificou, mesmo sem as evidência visíveis da sua presença. O fato de que geramos alguém traz uma alegria indescritível.
Como será ele ou ela? Com quem se parecerá? Do que gostará? Como será chamado (a)? Ah, essa creio, talvez a primeira decisão acerca da vida incubada.
Listas de nomes, lembranças associadas a antepassados, a personagens conhecidos, podem qualificar, ou não, potenciais candidatos. A escolha parece fácil, mas caracterizará para sempre o seu possuidor. Dizem até que pode influenciar a sua personalidade.
O nome já estava escolhido, pois a tecnologia proporcionou a descoberta daquela que era, tempos atrás, a maior expectativa dos pais. O enxoval selecionado e pronto para embalar o pequeno príncipe. Alguns brinquedos preparados para começar a divertir o herdeiro e encaminhá-lo ao mundo das fantasias.
Enquanto estes pensamentos circundavam a mente, o corpo agitado não se continha na sala de espera e, sob a força da ansiedade, percorria várias vezes o pequeno espaço reservado da maternidade.
Num momento de surpresa a alta e pesada porta se abre e um vulto branco adentra o recinto e, retirando sua máscara, pronuncia aquela frase que repercutiu fortemente em nosso íntimo:

- É um menino!

Bem, isso já se sabia, inclusive ela mesma, e, ansiosamente surgem as perguntas:

- Ele está bem? E a mãe?

Poucas palavras pronunciadas quase sob engasgo declaram as emoções incontidas.

- Sim, ambos estão bem!

Irresistivelmente as lágrimas rompem as comportas dos olhos e escorrem, lavando o imenso sorriso que se abre.
Lançamo-nos um ao outro, pai e filho, que compartilham juntos do momento único. Abraçamo-nos apertadamente na frente da obstetra, que talvez tenha vivenciado a cena dezenas de vezes, mas espantada com o rompente nos abraça, saindo rapidamente para terminar o divino trabalho de auxiliar a natureza no processo da vida.
A espera agora já não angustia e nos leva à presença do esperado, cabeludo, olhos claros e calmo, muito mais calmo do que a maioria das crianças.
Que a vida seja sempre bem-vinda! Que ela sempre traga a promessa da alegria, da esperança e da sua continuidade.

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