Saturday, February 02, 2008

Tudo começa com um sonho!

A intenção desta breve reflexão não é discutir extensamente o tema da Pobreza, nem elaborar um compêndio do assunto, antes apontar uma forma de pensá-la com o objetivo de, possivelmente, auxiliar seu enfretamento.

A Pobreza tem sido definida por um conjunto de fatores . Cita-se, dentre outras causas, a carência material como de alimentação, vestuário, alojamento e cuidados básicos de saúde. Ainda, são referidas a falta de recursos econômicos, a carência social e a carência energética.

As Sagradas Escrituras subsidiam alguns destes aspectos quando relata pessoas com diferentes tipos de carências e as associa ao termo ‘pobre’ ou à ‘pobreza’.

Por outro lado, a produção atual de alimentos no mundo seria suficiente para que todas as pessoas se alimentassem, mesmo com o aumento populacional projetado até 2025, caso todas elas tivessem acesso às refeições. Adicionalmente, o PIB Mundial está na ordem de US$ 48 trilhões, o que leva a uma renda per capita planetária em torno de US$ 8.000, equivalente ao valor de alguns países chamados ricos.

Em outras palavras, podemos dizer que a pobreza tem mais a ver com a distribuição dos bens e serviços produzidos, do que a sua falta ou escassez. Novamente, muitas questões podem ser debatidas quanto às suas causas.

Evidentemente as limitações, como doenças e falta de condições específicas, como conhecimento e habilidades, podem estar além do alcance das pessoas, contudo fico com a impressão de que muito da pobreza está mais ‘dentro’ das pessoas, especialmente, em suas cabeças, do que fora delas.

Não basta ter acesso ou possuir bens e serviços adequados, o que determinaria uma pessoa como não-pobre, pois muitos demonstram determinadas carências que os recursos não suprem.
Neste sentido, a acomodação a determinadas circunstâncias, a falta de iniciativa, a visão limitada (e por vezes distorcida) ou até o sentimento de dó de si mesmo, a facilidade da dependência dos demais, o entendimento de que se possui o ‘direito’ de ser atendido, enfim, existem diversas situações que são resultantes de um modo de ver e entender o mundo, e que pode implicar nesta pobreza da alma a que me refiro.

Novamente, é evidente que as sociedades humanas têm demonstrado, ao menos até agora e infelizmente, que sua sobrevivência tem dependido de uma brutal competição, em que pessoas ou certos agrupamentos conseguem privilégios em detrimento da grande maioria. Contudo, o próprio desenvolvimento das sociedades é produto da iniciativa, do empenho, da busca por uma ‘melhoria’, de forma que as pessoas, em geral e excetuando-se os casos especiais, possuem enorme potencial e diversas capacidades.

Aproveito este momento para um relato familiar, consciente de que um único caso não é suficiente para sustentar uma teorização, mas a intenção continua a de despertar uma reflexão sobre a pobreza e esta breve biografia pode auxiliar neste sentido.

No dia 03 de fevereiro de 1923, dia de São Braz conforme a tradição católica, nasceu um menino, primogênito, em uma família muito pobre na cidade paulista de Santo Antonio da Alegria, próxima à divisa com Minas Gerais.
Seus pais, agricultores e sem casa, terras ou outros bens, deram-lhe o nome de Sebastião Braz Goulart, e ainda tiveram mais 7 filhos, vivendo a família em quase extrema penúria. Aos 10 anos de idade, o menino tem que deixar a escola, cursava então a quarta série do Grupo Escolar, para ir trabalhar na lavoura, iniciando uma jornada, que tomaria seus próximos 22 anos, como Cortador de Cana, na Fazenda Amália, da família Matarazzo, próxima da cidade de Ribeirão Preto (SP).
Sua atividade como ‘bóia-fria’ se iniciava às 6h00 da manhã e decorria até as 18h00, quando o ‘pau-de-arara’ os trazia de volta para a cidade. Quantas não foram as vezes que, sob sol ou chuva, ao se inclinar na difícil tarefa de cortar o maço de canas ao pé, uma serpente se lhe enrolava nas pernas ou braços, impondo-lhe maiores riscos à saúde e à vida.
Assim, após entregar mensalmente sua baixa remuneração no envelope fechado para sua mãe, ele decide mudar de vida e buscar uma nova oportunidade na cidade grande.

Ora o que poderia esperar, um homem aos 32 anos de idade, que mal sabia ler e escrever, deixando a família e seus relacionamentos (inclusive amorosos) para trás e indo em direção ao não-se-sabe-o-que.
Apesar de ter um tio morando na cidade grande, ele busca seu próprio ‘destino’ e se instala em uma pensão na Grande São Paulo, conseguindo um emprego como Cortador de Madeira para a cozinha de uma grande empresa na época, agora lá pelos idos de 1955, início do processo de industrialização brasileiro.
Alguns meses depois, face ao seu interesse e dedicação, ele consegue entrar para o trabalho na cozinha industrial, onde antes trazia a lenha para os fogões, e passa a Auxiliar de Cozinha, lavando pratos e cortando batatas.
Mais alguns meses de afinco, e com algum treinamento interno, assume a posição de Garçom, fazendo com que um novo sonho cresça em seu coração.

Creio ser esta outra importante diferença entre ser ‘pobre’ ou não: a capacidade de sonhar!

Ao percorrer as salas do setor de Engenharia, por onde passava levando o cafezinho aos ‘maiorais’, começa a se ver como um desenhista, dentre os demais. Sempre andava observando aquelas enormes folhas com os traços da carroçaria dos veículos em projeto, aqueles trabalhadores diferenciados, não apenas por sua vestimenta e correspondente salário, mas fascinado com a possibilidade criativa de construir, de inventar.
Nesta época, adentra uma escola noturna de Desenho Técnico e, após alguns meses de árduo estudo, dificultado pelo pouco preparo anterior, consegue se formar no nível ginasial e logo obtém uma colocação como Desenhista na mesma empresa alemã denominada DKW Vemag.
Poucos anos mais tarde, esta empresa é negociada e a Volkswagen do Brasil assume o controle, de forma que ele continua a trabalhar no mesmo edifício por mais de 25 anos. Sob as dificuldades de problemas cardíacos, resultantes de uma doença adquirida desde a infância, pois o lugar de seu nascimento é um dos mais infestados pelo mosquito Barbeiro, transmissor da doença de Chagas, ele se afasta do trabalho, quando já comandava uma equipe que incluía vários engenheiros sob suas ordens.

Fico a pensar que, mesmo sendo as circunstâncias terríveis, sempre haverá espaço para o afloramento da força interior das pessoas, para a recusa em aceitar o quadro negativo que é imposto; para desafiar o ‘status quo’; para dizer não a situações indesejáveis.
Esta, na realidade, é outra diferença que destaca o ser humano dentre toda a natureza, sua capacidade de mudar e de impor mudanças. Contudo, toda a mudança deve começar dentro de cada um, daquilo que se deseja, que realmente se quer.

Não raras foram às vezes em que Jesus se dirigiu a uma pessoa e perguntou: O que quer que te faça?

Há que se querer, há que se desejar, há que se sonhar...

Tuesday, January 29, 2008

Que a estrela te oriente!

Famosa a história dos reis magos que, despertados por uma especial percepção, viram uma estrela diferente ao contemplarem, como costumeiramente, aquele anoitecer.
Mas algo estava diferente, anormal; destacava-se, dentre os tantos brilhos usuais, aquela mais brilhosa, talvez mais próxima, talvez nova naquele céu e, “vejam!”, ela se move.
Que estranho, ela se movimenta, mas para onde vai? Qual a sua direção?
Especula-se daqui, supõem-se dali, imagina-se acolá.
Vem a manhã, um novo dia se sucede e, talvez, dentre os assuntos cotidianos, a novidade da estrela preenche as conversas, dita o rumo dos pensamentos, alimenta as expectativas.
“Será que ela aparecerá novamente? Onde estará hoje?”
Olhares atentos, outros afazeres despriorizados, a busca se inicia e, lá está ela, tão perto, tão linda, tão brilhante, quase podendo ser alcançada com as mãos.
Estranho, mas parece que ela, vagarosamente, mas perceptivelmente, caminha, anda por aquele céu e os chama, os atrai, indica um caminho.
Estórias passadas contam que os deuses indicavam pelas estrelas, usavam-nas, manipulavam-nas e faziam-se comunicados por elas.
Será alguma indicação, será alguma mensagem, ou será um novo acontecimento sendo anunciado? Para onde ela vai e por quê?
“Vamos segui-la!”, alguém sugere. “Vamos ver onde nos levará!”, estimulam-se. “Veremos o que está por trás deste movimento, deste fato novo!”.
Talvez não sem discórdia, sem hesitação, sem contrariedades, aqueles reis ou pastores decidem segui-la.
Que ousadia, que desafio, que aventura!
A história, creio, quase todos conhecemos, nos informa que eles encontraram a maior novidade, a maior revelação de todos os tempos: Deus se fez homem!

Uma nova estrela para mostrar um novo tempo.
Uma nova estrela para indicar um novo caminho.
Uma nova estrela para apontar novos relacionamentos.

Que esta antiga estrela te oriente:
- Que 2008 seja um novo tempo, uma época de restauração: de olhar para que o passou, para o agora inalcançável e para o obtido; de olhar para o construído e para o que ainda se pode construir; de olhar para o que se perdeu e para o que se pode conquistar;
- Que 2008 seja um novo caminho, uma viagem de aventura: de deixar os campos de sempre, de empacotar a vida e tomar a atitude do movimento; de buscar um novo rumo e acompanhar os movimentos do coração;
- Que 2008 seja um novo relacionamento, uma relação de amor: uma nova oportunidade para se perceber, para se compreender, para suprir a fome da alma; uma nova forma de agir a favor daqueles que caminham ao lado nestes campos, da família, dentre amigos, mas especialmente para buscar relações que expressem a dádiva de Humanidade, demonstrando, por ações especiais aos desumanizados pela vida, que vale a pena ser ‘humano’, que vale a pena se parecer com Aquele que tendo tudo, tudo deixou, para demonstrar que nada tendo e dando de si, recebe-se tudo de volta.

Que a estrela te oriente a, em 2008, buscar Aquele para quem ela, um dia, apontou e para quem ela sempre continuará apontando.

Situação Inusitada

A vida de professor é uma aventura, talvez isto me tenha atraído para esta nobre profissão ou, sei lá, pela tentativa de corrigir alguma antiga frustração com ex-mestres, mas sobretudo porque gosto de ensinar, sempre gostei de explicar coisas a outras pessoas.

Lembro-me de que para estudar geografia e ‘decorar’ aqueles nomes, de que não me lembro mais, ia à noite ao quarto de meus pais, quando estava lá pelos 9 anos de idade, para explicar-lhes o nome dos estados e suas capitais. Que noite, para eles!

Uma das situações que causam grande expectativa aos mestres, mesmo aos mais tarimbados depois de anos na estrada do ensino, é o início de um novo período de aulas, principalmente, com um novo conjunto de alunos.
As questões que, usualmente, surgem são: será que a turma é ‘boa’, ou seja, participativa, atenta, interessada; creio que estas são as qualidades mínimas a se esperar de quem está em uma escola, principalmente por aqueles que pagam para ‘aprender’.

Lá estava eu, iniciando naquela que para mim era uma nova escola, um novo ambiente, novos colegas de profissão; será que são boa gente? Será fácil a integração? E os alunos, qual a cultura estudantil deste lugar?

Inúmeras questões vieram à cabeça, enquanto subia as escadarias e, ao mesmo tempo, ao observar os tipos às entradas das salas, suas posturas, vestimentas e, então, cheguei à minha classe.

- Olá, boa noite!

Educadamente, mas indicando a presença e já buscando estabelecer um ambiente sob controle; geralmente, os professores assumem seu posto frente ao timão (apenas citando por força de expressão), ou seja, postados atrás da mesa de trabalho, organizando as coisas e, atentamente, observando os alunos, e vice-versa, para encontrar aqueles pontos de empatia, super-importantes ao exercício docente.

Inusitadamente, iniciaram-se pequenos risos, uma movimentação estranha, uns voltaram-se aos outros, comentários em meio tom, aquele ‘buchicho’ típico das brincadeiras de salas de aula.
Subitamente um aluno se levanta plácido, como se acabasse de ver um fantasma, com olhar fixo em mim, imóvel. Todos os sons cessaram e um ar de expectativa invadiu o ambiente.

Pasmo, com o coração saltitando inesperadamente, a adrenalina estimulando as percepções e, ao mesmo tempo, quase sem controle motor, comecei a levantar encarando aquele ..., ou eu mesmo, “será que sou eu?”, pensei, mas eu nunca me vi assim antes; “será que não me falaram?”

Lá estava meu sósia, ou talvez um irmão gêmeo. Como é assustador se ver em outro.
Todos os demais alunos parados, aguardando para ver o desenrolar da situação inusitada, creio que para todos nós.

Por um tempo, que pareceu tão longo, o silêncio imperou.

Buscando forças onde não mais havia, fiz a única coisa plausível para o momento: comecei a rir... Todos, como que aliviados, também começaram a sorrir e, aquele lindo aluno, esboçou um sorriso mesclado com admiração, espanto, ou sei lá o quê.

Situação mais ou menos controlada, procurei sentar e chamei o sósia à minha mesa para, em particular, investigar, talvez, algum passado em comum (que Deus me perdoe!).
Felizmente, não houve intercambio genético anterior, pois as árvores genealógicas jamais se cruzaram, de forma que, por um acaso da natureza, estávamos lá, unidos por uma circunstância da vida.

O ano decorreu com a normalidade corriqueira, com a diferença de que sempre o mencionavam como meu primo, às vezes como meu filho e, inevitavelmente, sempre os demais aspiravam algum benefício avaliativo para com o meu parecido, afinal éramos tão iguais.

A verdade é que a experiência única causou-me cicatrizes históricas na memória e, vez por outra, me lembro daquele momento, agora hilário, mas surpreendente na ocasião. Quando me recordo, onde estiver, olho ao redor, procuro, observo se ele ou outro similar não está por perto, pois a vida sempre nos prega surpresas.

Nunca mais o vi, porém estou certo de que deve ter tido sucesso na vida, afinal além de ser meu ex-aluno, ele possuía algo de excepcional: parecia-se comigo!

Grande Amigo: Feliz Anversário!

Penso, às vezes, que nossa vida se parece com um grande mar por onde navegamos através dos dias. Muitos destes dias são revoltosos, trazendo dúvidas, preocupações, temores. Outros são alegres, ensolarados, especiais, dos quais queremos não nos esquecer. O grande desafio é estabelecer o rumo certo e trabalhar para alcançar os portos seguros que buscamos.

Vejo os aniversários, dentre outras datas especiais, como marcos, referências para a reavaliação dos caminhos. São como as leituras das estrelas brilhantes, que os marinheiros fazem, para reorientar a navegação sobre as ondas do grande mar.

Estes são momentos importantes, onde se deixam as tarefas corriqueiras e os olhos param contemplando o brilho, o tamanho, a posição das estrelas. Com certeza os olhos do marinheiro se enchem de alegria naquele importante momento de sua vida. Talvez outros não percebam, não vivam com ele aquele momento da mesma forma. De certo, sua decisão ao reavaliar os rumos poderá ter conseqüências na vida de outras pessoas.

Seu aniversário, de forma similar, será um momento especial para você, e tem sido uma alegria e uma convivência abençoadora estes dias que o Senhor nos tem dado para mútuo auxílio nesta travessia da vida.

Para você, fica assim, meu desejo que seus rumos possam sempre lhe levar a bons portos; àqueles que você planeja alcançar. Lembre-se que dias difíceis virão, mas os ensolarados sempre serão em maior número. Aproveite as ocasiões especiais, como seus aniversários, pois são como estrelas brilhantes em nossa vida, e os utilize para refletir sobre seus destinos e recolocar a nau na direção correta.

Forte Abraço,