Thursday, December 23, 2010

Natal!

Não podemos dizer que o Natal signifique muita coisa, pois apenas 18% dos habitantes deste planeta, aqueles considerados cristãos, devem olhar para esta data com maior atenção.

Ainda assim, muitos cristãos questionam a legitimidade dela, quando focalizam o mercantilismo, o conto do homem de barbas brancas ou o recesso do expediente dee trabalho.

Por outro lado, quando se oportuniza um momento para rever os amigos, abraçar os queridos mais próximos, levar uma palavra de ânimo, de compreensão ou ajuda, ai então algo novo acontece dentro das pessoas.

O verdadeiro significado da humanidade aparece, aquilo que nos torna diferentes dos animais, na capacidade de ver e lutar pela dignidade da pessoa, de deixar de lado as prioridades pessoais e socorrer quem precisa de um momento de atenção, e creio que, então, o significado do Natal se constata.

Independente de tudo o mais, aproveite este momento para oferecer a quem está perto o seu melhor presente: você mesmo! Com um longo sorriso verdadeiro, um abraço apertado e seu desejo de que se tenham dias melhores!

Isso é o que eu gostaria de oferecer-lhe agora, mas se apenas receberes este e-mail é porque não estamos tão perto fisicamente, mas fica aqui meu melhor sentimento a você.

Feliz Natal e um Grande 2011!

Sunday, March 01, 2009

Coisa de vô!

Os dias de escola chegaram e com eles uma nova porta de possibilidades se abriu: novas tarefas, novos amigos, e com eles as descobertas de um mundo desconhecido.
As disputas com as bolinhas de gude à porta de casa pareciam infindáveis. Os jogos de bola na rua de terra impunham novos relacionamentos: separavam os da turma da rua dos demais, agora sempre adversários.
As lições de casa estremeceram as relações familiares e passaram a impor limitações às alegrias da escola, mas não diminuíram a espera pelo recreio e as aventuras e brincadeiras no exíguo tempo disponível.
Parece que ultrapassar os limites faz parte da natureza humana e a curiosidade sempre foi maior que a noção de perigo, o que pode ser visto especialmente nas crianças.
Naquela época o bairro ainda não tinha a infraestrutura imposta pelo desenvolvimento e a criançada se divertia pelas ruas, após as aulas. Não muito distante havia um amplo espaço desabitado, onde se praticava o futebol amador, lugar conhecido como "7 campos", obviamente pelo número de campos de futebol contíguos e abertos ao público.
Na mesma região havia uma pequena lagoa, onde a criançada, ou melhor, aqueles autorizados pela mãe ou sob os 'riscos maternos', iam brincar de pegar peixinhos. Na realidade não era uma pescaria de verdade, e nem mesmo fossem aquelas pequenas criaturas com cabeça grande e único rabo descendentes dos peixes.
Mas a diversão esteva mesmo ai: com uma pequena lata aberta, aproximar-se da beira, separar o mato com uma das mãos e mergulhar a lata, retirando-a cheia d'água e de girinos. Em seguida, passava-os para um saco plástico para, em casa, cuidar deles por uns dias e descartá-los em seguida, sem o menor sentimento de culpa.
Vários amigos se juntavam, quase semanalmente, para enfrentar o desafio da 'pescaria'. Não demorou muito para que os convites iniciais se tornassem em intimação, com severas penalidades no futebol para os ausentes.
Neste ponto as coisas se complicaram, pois a senhora do lar havia pronunciado em alto e bom som:

- Você não vai pegar peixinhos!

A advertência não era nova, mas naquele dia muita coisa estava em jogo. Uma estratégia deveria ser traçada para acomodar todas as necessidades.
Primeiro nada dizer a ela sobre a intenção de integrar o bando de pescadores, ocultando todos os preparativos. Depois, sair como de costume para a rua sem despertar a atenção, como se fosse para uma partida de futebol. Participar com os amigos, porém de forma breve, por um pouco de tempo, suficiente para capturar uns pares de exemplares e retornar logo, sozinho.
O plano perfeito fracassou, não fosse um pequeno detalhe sobrenatural e desconhecido até aquela data, que mostrou toda a sua eficácia: o 6º sentido das mães.
Ao aproximar-me de casa, coisa de um quarteirão, vi ao longe no portão um vulto agitado com a aparência de alguém conhecido: era ela e já com algo à mão.
Bem, agora o cenário era desalentador; poucas opções minha mente conseguiu elaborar: a) fugir imediatamente de casa; b) dizer que fora à casa de um amigo que me dera os peixes ("a mentira tem pernas curtas", havia aprendido); c) encarar a situação na expectativa de que, contando a verdade, as coisas se amenizassem.
Enquanto caminhava, o saquinho cheio d'água com os desafortunados girinos denunciavam a desobediência. Enfim, ao chegar ao portão consegui apenas exclamar:

- Mãe, olha quantos consegui pegar!

A única coisa de que me lembro foi:

- Não te disse para não ir?

Nunca foi despido tão rapidamente em minha vida, nem na lua de mel. A bermuda molhada, camiseta e cueca ficaram ali mesmo num canto do banheiro, enquanto violentamente a sua porta
foi fechada e aquela cinta, que estava à mão não sei por quanto tempo, sobe ao ar como em um movimento em câmera lenta (igual àquelas cenas do Jet Lee!) e...
De repente, como por um milagre, a porta se abre, meu velho e bom avô adentra ao banheiro (parecia o 'The Flash') e me joga por entre as suas pernas. A cinta em movimento descendente acerta suas pernas, mas parece que ele sequer percebe.
Salvo pelo amor do "velho", como era chamado, que deveria saber da alegria da pescaria em seus tempos de criança no interior mineiro, fiquei apenas com as imagens desvanecidas do episódio que me ensinou a:
1) respeitar minha mãe; e
2) amar muito mais meu querido avô.

Bem vindo à vida!

Uma das coisas mais interessantes da vida é que ela nos leva a lugares diferentes. Cada lugar tem suas características peculiares, seus atrativos ou seus repulsivos.
Um dos que menos gosto é hospital. Via de regra, ninguém vai fazer um passeio lá, se divertir, descontrair, pois ali não é lugar de lazer.
Por maior que seja a hospitalidade, os hospitais representam lugares doentios, onde por vezes até se disseminam males por entre as pessoas. Pois lá estava a aguardar notícias.
Como é dura a espera, como pode ser difícil a expectativa, porque pode destruir a esperança e aniquilar num só instante todos os planos e projetos.
Naquela alvorada nascente, cujo testemunho adentrava o ambiente acinzentado pelas frestas das janelas, assentados, sem palavras, imersos no silêncio de ninguém, os pensamentos navegavam pelos portos do passado, buscando embarcar as emoções do momento e ancorar nos planos, amplamente discutidos, para o futuro daquele que estava por chegar.
Os filhos são, realmente uma herança, um rico presente, d'Aquele que outorga a vida e as possibilidades da sua construção.
Como é bom receber boas noticias! Meses antes a informação da gravidez adentrou nossas vidas e as modificou, mesmo sem as evidência visíveis da sua presença. O fato de que geramos alguém traz uma alegria indescritível.
Como será ele ou ela? Com quem se parecerá? Do que gostará? Como será chamado (a)? Ah, essa creio, talvez a primeira decisão acerca da vida incubada.
Listas de nomes, lembranças associadas a antepassados, a personagens conhecidos, podem qualificar, ou não, potenciais candidatos. A escolha parece fácil, mas caracterizará para sempre o seu possuidor. Dizem até que pode influenciar a sua personalidade.
O nome já estava escolhido, pois a tecnologia proporcionou a descoberta daquela que era, tempos atrás, a maior expectativa dos pais. O enxoval selecionado e pronto para embalar o pequeno príncipe. Alguns brinquedos preparados para começar a divertir o herdeiro e encaminhá-lo ao mundo das fantasias.
Enquanto estes pensamentos circundavam a mente, o corpo agitado não se continha na sala de espera e, sob a força da ansiedade, percorria várias vezes o pequeno espaço reservado da maternidade.
Num momento de surpresa a alta e pesada porta se abre e um vulto branco adentra o recinto e, retirando sua máscara, pronuncia aquela frase que repercutiu fortemente em nosso íntimo:

- É um menino!

Bem, isso já se sabia, inclusive ela mesma, e, ansiosamente surgem as perguntas:

- Ele está bem? E a mãe?

Poucas palavras pronunciadas quase sob engasgo declaram as emoções incontidas.

- Sim, ambos estão bem!

Irresistivelmente as lágrimas rompem as comportas dos olhos e escorrem, lavando o imenso sorriso que se abre.
Lançamo-nos um ao outro, pai e filho, que compartilham juntos do momento único. Abraçamo-nos apertadamente na frente da obstetra, que talvez tenha vivenciado a cena dezenas de vezes, mas espantada com o rompente nos abraça, saindo rapidamente para terminar o divino trabalho de auxiliar a natureza no processo da vida.
A espera agora já não angustia e nos leva à presença do esperado, cabeludo, olhos claros e calmo, muito mais calmo do que a maioria das crianças.
Que a vida seja sempre bem-vinda! Que ela sempre traga a promessa da alegria, da esperança e da sua continuidade.

Como vai você?

- Eu estou bem!

Nunca entendi bem esta afirmação e jamais saberei o seu correto significado, enquanto estiver neste mundo.
É interessante como a palavras podem ser usadas e a mensagem que transportam ficar incompreensível.
Ali, naquele momento, a primeira impressão seria a de que tudo estava bem, apesar da consternação geral.
Além da frase, as lembranças, que se dispersam como as nuvens na alvorada, reconstroem a imagem do cenário todo branco, das paredes, lençois, uniformes, bem como do silêncio ensurdecedor.
Já não era a primeira vez, mas sempre esperamos, desejamos, lutamos para que momentos tristes, de apreensão, não se repitam. Por que o sofrimento nos rouba o ânimo tão violenta e rapidamente? Por que de assalto nos sobrevêm a dor e a angustia?
A despeito da fragilidade da vida, a grande expectativa é a de que ela nunca acabe, nunca se esgote pelo ralo do universo.
Vestido apenas com o avental branco, barba por fazer, de chinelos e sem nada mais, inclusive daquele anel dourado que por mais de 40 anos significou uma feliz vida conjugal, estava pronto para enfrentar novamente o desafio de encarar a morte de frente, olhar nos olhos dela e partir para a luta.
Pena que o ânimo, a coragem e todo o apoio possíveis, não foram suficientes. Acredito que por muitas vezes, incontáveis 'rounds', acabamos por vencer e a deixamos caída, derrotada, humilhada, mas não sem vida, pois ela se levanta, se reconstitui e, um dia mais tarde, nos encara de novo e nos vence.

- Eu estou bem!

Talvez seu desejo fosse nos poupar; fosse a vontade de que partilhássemos apenas dos bons momentos; fosse um grito profundo para expressar seu amor e cuidado para com aqueles que amava.
Por mais que quiséssemos evitar, ou não demonstrar, não estávamos bem. Como poderíamos se reprisávamos a mesma cena de quinquênios atrás, com a aflição e comoção penetrantes?
Seu olhar brilhante ainda mantinha o vigor e a atração genuínas, transmitindo a calma e o carinho de um pai que soube se fazer modelo para todos com os quais conviveu.
Mais difícil foi ouvir a frase posterior que indicava a derrota mortal:

- Sinto, mas fizemos tudo o que foi possível!

Realmente, parece que a vida se constroi dos possíveis. A cada dia que passa os homens conseguem empurrar as fronteiras do impossível um pouquinho mais para trás. Contudo, a vida continua delimitada pelas possibilidades da fragilidade, pelos muros da fraqueza, pelas cercas do envelhecimento.
Aquele pequeno coração vacilante não conseguiu resistir às demandas da intervenção, cessou de bombear o suco da vida por suas artérias e deu-se por vencido.
Revi-o, ainda, dentro de sua última vestimenta, ali deitado sobre uma fria mesa de mármore branco, gélido, inerte, sem o brilho no olhar, sequer com a energia para balbuciar para mim aquelas mesmas palavras, mas não precisava mais, porque estou certo de que, se pudesse, as pronunciaria com a mesma convicção:

- Eu estou bem!

Saturday, February 02, 2008

Tudo começa com um sonho!

A intenção desta breve reflexão não é discutir extensamente o tema da Pobreza, nem elaborar um compêndio do assunto, antes apontar uma forma de pensá-la com o objetivo de, possivelmente, auxiliar seu enfretamento.

A Pobreza tem sido definida por um conjunto de fatores . Cita-se, dentre outras causas, a carência material como de alimentação, vestuário, alojamento e cuidados básicos de saúde. Ainda, são referidas a falta de recursos econômicos, a carência social e a carência energética.

As Sagradas Escrituras subsidiam alguns destes aspectos quando relata pessoas com diferentes tipos de carências e as associa ao termo ‘pobre’ ou à ‘pobreza’.

Por outro lado, a produção atual de alimentos no mundo seria suficiente para que todas as pessoas se alimentassem, mesmo com o aumento populacional projetado até 2025, caso todas elas tivessem acesso às refeições. Adicionalmente, o PIB Mundial está na ordem de US$ 48 trilhões, o que leva a uma renda per capita planetária em torno de US$ 8.000, equivalente ao valor de alguns países chamados ricos.

Em outras palavras, podemos dizer que a pobreza tem mais a ver com a distribuição dos bens e serviços produzidos, do que a sua falta ou escassez. Novamente, muitas questões podem ser debatidas quanto às suas causas.

Evidentemente as limitações, como doenças e falta de condições específicas, como conhecimento e habilidades, podem estar além do alcance das pessoas, contudo fico com a impressão de que muito da pobreza está mais ‘dentro’ das pessoas, especialmente, em suas cabeças, do que fora delas.

Não basta ter acesso ou possuir bens e serviços adequados, o que determinaria uma pessoa como não-pobre, pois muitos demonstram determinadas carências que os recursos não suprem.
Neste sentido, a acomodação a determinadas circunstâncias, a falta de iniciativa, a visão limitada (e por vezes distorcida) ou até o sentimento de dó de si mesmo, a facilidade da dependência dos demais, o entendimento de que se possui o ‘direito’ de ser atendido, enfim, existem diversas situações que são resultantes de um modo de ver e entender o mundo, e que pode implicar nesta pobreza da alma a que me refiro.

Novamente, é evidente que as sociedades humanas têm demonstrado, ao menos até agora e infelizmente, que sua sobrevivência tem dependido de uma brutal competição, em que pessoas ou certos agrupamentos conseguem privilégios em detrimento da grande maioria. Contudo, o próprio desenvolvimento das sociedades é produto da iniciativa, do empenho, da busca por uma ‘melhoria’, de forma que as pessoas, em geral e excetuando-se os casos especiais, possuem enorme potencial e diversas capacidades.

Aproveito este momento para um relato familiar, consciente de que um único caso não é suficiente para sustentar uma teorização, mas a intenção continua a de despertar uma reflexão sobre a pobreza e esta breve biografia pode auxiliar neste sentido.

No dia 03 de fevereiro de 1923, dia de São Braz conforme a tradição católica, nasceu um menino, primogênito, em uma família muito pobre na cidade paulista de Santo Antonio da Alegria, próxima à divisa com Minas Gerais.
Seus pais, agricultores e sem casa, terras ou outros bens, deram-lhe o nome de Sebastião Braz Goulart, e ainda tiveram mais 7 filhos, vivendo a família em quase extrema penúria. Aos 10 anos de idade, o menino tem que deixar a escola, cursava então a quarta série do Grupo Escolar, para ir trabalhar na lavoura, iniciando uma jornada, que tomaria seus próximos 22 anos, como Cortador de Cana, na Fazenda Amália, da família Matarazzo, próxima da cidade de Ribeirão Preto (SP).
Sua atividade como ‘bóia-fria’ se iniciava às 6h00 da manhã e decorria até as 18h00, quando o ‘pau-de-arara’ os trazia de volta para a cidade. Quantas não foram as vezes que, sob sol ou chuva, ao se inclinar na difícil tarefa de cortar o maço de canas ao pé, uma serpente se lhe enrolava nas pernas ou braços, impondo-lhe maiores riscos à saúde e à vida.
Assim, após entregar mensalmente sua baixa remuneração no envelope fechado para sua mãe, ele decide mudar de vida e buscar uma nova oportunidade na cidade grande.

Ora o que poderia esperar, um homem aos 32 anos de idade, que mal sabia ler e escrever, deixando a família e seus relacionamentos (inclusive amorosos) para trás e indo em direção ao não-se-sabe-o-que.
Apesar de ter um tio morando na cidade grande, ele busca seu próprio ‘destino’ e se instala em uma pensão na Grande São Paulo, conseguindo um emprego como Cortador de Madeira para a cozinha de uma grande empresa na época, agora lá pelos idos de 1955, início do processo de industrialização brasileiro.
Alguns meses depois, face ao seu interesse e dedicação, ele consegue entrar para o trabalho na cozinha industrial, onde antes trazia a lenha para os fogões, e passa a Auxiliar de Cozinha, lavando pratos e cortando batatas.
Mais alguns meses de afinco, e com algum treinamento interno, assume a posição de Garçom, fazendo com que um novo sonho cresça em seu coração.

Creio ser esta outra importante diferença entre ser ‘pobre’ ou não: a capacidade de sonhar!

Ao percorrer as salas do setor de Engenharia, por onde passava levando o cafezinho aos ‘maiorais’, começa a se ver como um desenhista, dentre os demais. Sempre andava observando aquelas enormes folhas com os traços da carroçaria dos veículos em projeto, aqueles trabalhadores diferenciados, não apenas por sua vestimenta e correspondente salário, mas fascinado com a possibilidade criativa de construir, de inventar.
Nesta época, adentra uma escola noturna de Desenho Técnico e, após alguns meses de árduo estudo, dificultado pelo pouco preparo anterior, consegue se formar no nível ginasial e logo obtém uma colocação como Desenhista na mesma empresa alemã denominada DKW Vemag.
Poucos anos mais tarde, esta empresa é negociada e a Volkswagen do Brasil assume o controle, de forma que ele continua a trabalhar no mesmo edifício por mais de 25 anos. Sob as dificuldades de problemas cardíacos, resultantes de uma doença adquirida desde a infância, pois o lugar de seu nascimento é um dos mais infestados pelo mosquito Barbeiro, transmissor da doença de Chagas, ele se afasta do trabalho, quando já comandava uma equipe que incluía vários engenheiros sob suas ordens.

Fico a pensar que, mesmo sendo as circunstâncias terríveis, sempre haverá espaço para o afloramento da força interior das pessoas, para a recusa em aceitar o quadro negativo que é imposto; para desafiar o ‘status quo’; para dizer não a situações indesejáveis.
Esta, na realidade, é outra diferença que destaca o ser humano dentre toda a natureza, sua capacidade de mudar e de impor mudanças. Contudo, toda a mudança deve começar dentro de cada um, daquilo que se deseja, que realmente se quer.

Não raras foram às vezes em que Jesus se dirigiu a uma pessoa e perguntou: O que quer que te faça?

Há que se querer, há que se desejar, há que se sonhar...

Tuesday, January 29, 2008

Que a estrela te oriente!

Famosa a história dos reis magos que, despertados por uma especial percepção, viram uma estrela diferente ao contemplarem, como costumeiramente, aquele anoitecer.
Mas algo estava diferente, anormal; destacava-se, dentre os tantos brilhos usuais, aquela mais brilhosa, talvez mais próxima, talvez nova naquele céu e, “vejam!”, ela se move.
Que estranho, ela se movimenta, mas para onde vai? Qual a sua direção?
Especula-se daqui, supõem-se dali, imagina-se acolá.
Vem a manhã, um novo dia se sucede e, talvez, dentre os assuntos cotidianos, a novidade da estrela preenche as conversas, dita o rumo dos pensamentos, alimenta as expectativas.
“Será que ela aparecerá novamente? Onde estará hoje?”
Olhares atentos, outros afazeres despriorizados, a busca se inicia e, lá está ela, tão perto, tão linda, tão brilhante, quase podendo ser alcançada com as mãos.
Estranho, mas parece que ela, vagarosamente, mas perceptivelmente, caminha, anda por aquele céu e os chama, os atrai, indica um caminho.
Estórias passadas contam que os deuses indicavam pelas estrelas, usavam-nas, manipulavam-nas e faziam-se comunicados por elas.
Será alguma indicação, será alguma mensagem, ou será um novo acontecimento sendo anunciado? Para onde ela vai e por quê?
“Vamos segui-la!”, alguém sugere. “Vamos ver onde nos levará!”, estimulam-se. “Veremos o que está por trás deste movimento, deste fato novo!”.
Talvez não sem discórdia, sem hesitação, sem contrariedades, aqueles reis ou pastores decidem segui-la.
Que ousadia, que desafio, que aventura!
A história, creio, quase todos conhecemos, nos informa que eles encontraram a maior novidade, a maior revelação de todos os tempos: Deus se fez homem!

Uma nova estrela para mostrar um novo tempo.
Uma nova estrela para indicar um novo caminho.
Uma nova estrela para apontar novos relacionamentos.

Que esta antiga estrela te oriente:
- Que 2008 seja um novo tempo, uma época de restauração: de olhar para que o passou, para o agora inalcançável e para o obtido; de olhar para o construído e para o que ainda se pode construir; de olhar para o que se perdeu e para o que se pode conquistar;
- Que 2008 seja um novo caminho, uma viagem de aventura: de deixar os campos de sempre, de empacotar a vida e tomar a atitude do movimento; de buscar um novo rumo e acompanhar os movimentos do coração;
- Que 2008 seja um novo relacionamento, uma relação de amor: uma nova oportunidade para se perceber, para se compreender, para suprir a fome da alma; uma nova forma de agir a favor daqueles que caminham ao lado nestes campos, da família, dentre amigos, mas especialmente para buscar relações que expressem a dádiva de Humanidade, demonstrando, por ações especiais aos desumanizados pela vida, que vale a pena ser ‘humano’, que vale a pena se parecer com Aquele que tendo tudo, tudo deixou, para demonstrar que nada tendo e dando de si, recebe-se tudo de volta.

Que a estrela te oriente a, em 2008, buscar Aquele para quem ela, um dia, apontou e para quem ela sempre continuará apontando.

Situação Inusitada

A vida de professor é uma aventura, talvez isto me tenha atraído para esta nobre profissão ou, sei lá, pela tentativa de corrigir alguma antiga frustração com ex-mestres, mas sobretudo porque gosto de ensinar, sempre gostei de explicar coisas a outras pessoas.

Lembro-me de que para estudar geografia e ‘decorar’ aqueles nomes, de que não me lembro mais, ia à noite ao quarto de meus pais, quando estava lá pelos 9 anos de idade, para explicar-lhes o nome dos estados e suas capitais. Que noite, para eles!

Uma das situações que causam grande expectativa aos mestres, mesmo aos mais tarimbados depois de anos na estrada do ensino, é o início de um novo período de aulas, principalmente, com um novo conjunto de alunos.
As questões que, usualmente, surgem são: será que a turma é ‘boa’, ou seja, participativa, atenta, interessada; creio que estas são as qualidades mínimas a se esperar de quem está em uma escola, principalmente por aqueles que pagam para ‘aprender’.

Lá estava eu, iniciando naquela que para mim era uma nova escola, um novo ambiente, novos colegas de profissão; será que são boa gente? Será fácil a integração? E os alunos, qual a cultura estudantil deste lugar?

Inúmeras questões vieram à cabeça, enquanto subia as escadarias e, ao mesmo tempo, ao observar os tipos às entradas das salas, suas posturas, vestimentas e, então, cheguei à minha classe.

- Olá, boa noite!

Educadamente, mas indicando a presença e já buscando estabelecer um ambiente sob controle; geralmente, os professores assumem seu posto frente ao timão (apenas citando por força de expressão), ou seja, postados atrás da mesa de trabalho, organizando as coisas e, atentamente, observando os alunos, e vice-versa, para encontrar aqueles pontos de empatia, super-importantes ao exercício docente.

Inusitadamente, iniciaram-se pequenos risos, uma movimentação estranha, uns voltaram-se aos outros, comentários em meio tom, aquele ‘buchicho’ típico das brincadeiras de salas de aula.
Subitamente um aluno se levanta plácido, como se acabasse de ver um fantasma, com olhar fixo em mim, imóvel. Todos os sons cessaram e um ar de expectativa invadiu o ambiente.

Pasmo, com o coração saltitando inesperadamente, a adrenalina estimulando as percepções e, ao mesmo tempo, quase sem controle motor, comecei a levantar encarando aquele ..., ou eu mesmo, “será que sou eu?”, pensei, mas eu nunca me vi assim antes; “será que não me falaram?”

Lá estava meu sósia, ou talvez um irmão gêmeo. Como é assustador se ver em outro.
Todos os demais alunos parados, aguardando para ver o desenrolar da situação inusitada, creio que para todos nós.

Por um tempo, que pareceu tão longo, o silêncio imperou.

Buscando forças onde não mais havia, fiz a única coisa plausível para o momento: comecei a rir... Todos, como que aliviados, também começaram a sorrir e, aquele lindo aluno, esboçou um sorriso mesclado com admiração, espanto, ou sei lá o quê.

Situação mais ou menos controlada, procurei sentar e chamei o sósia à minha mesa para, em particular, investigar, talvez, algum passado em comum (que Deus me perdoe!).
Felizmente, não houve intercambio genético anterior, pois as árvores genealógicas jamais se cruzaram, de forma que, por um acaso da natureza, estávamos lá, unidos por uma circunstância da vida.

O ano decorreu com a normalidade corriqueira, com a diferença de que sempre o mencionavam como meu primo, às vezes como meu filho e, inevitavelmente, sempre os demais aspiravam algum benefício avaliativo para com o meu parecido, afinal éramos tão iguais.

A verdade é que a experiência única causou-me cicatrizes históricas na memória e, vez por outra, me lembro daquele momento, agora hilário, mas surpreendente na ocasião. Quando me recordo, onde estiver, olho ao redor, procuro, observo se ele ou outro similar não está por perto, pois a vida sempre nos prega surpresas.

Nunca mais o vi, porém estou certo de que deve ter tido sucesso na vida, afinal além de ser meu ex-aluno, ele possuía algo de excepcional: parecia-se comigo!

Grande Amigo: Feliz Anversário!

Penso, às vezes, que nossa vida se parece com um grande mar por onde navegamos através dos dias. Muitos destes dias são revoltosos, trazendo dúvidas, preocupações, temores. Outros são alegres, ensolarados, especiais, dos quais queremos não nos esquecer. O grande desafio é estabelecer o rumo certo e trabalhar para alcançar os portos seguros que buscamos.

Vejo os aniversários, dentre outras datas especiais, como marcos, referências para a reavaliação dos caminhos. São como as leituras das estrelas brilhantes, que os marinheiros fazem, para reorientar a navegação sobre as ondas do grande mar.

Estes são momentos importantes, onde se deixam as tarefas corriqueiras e os olhos param contemplando o brilho, o tamanho, a posição das estrelas. Com certeza os olhos do marinheiro se enchem de alegria naquele importante momento de sua vida. Talvez outros não percebam, não vivam com ele aquele momento da mesma forma. De certo, sua decisão ao reavaliar os rumos poderá ter conseqüências na vida de outras pessoas.

Seu aniversário, de forma similar, será um momento especial para você, e tem sido uma alegria e uma convivência abençoadora estes dias que o Senhor nos tem dado para mútuo auxílio nesta travessia da vida.

Para você, fica assim, meu desejo que seus rumos possam sempre lhe levar a bons portos; àqueles que você planeja alcançar. Lembre-se que dias difíceis virão, mas os ensolarados sempre serão em maior número. Aproveite as ocasiões especiais, como seus aniversários, pois são como estrelas brilhantes em nossa vida, e os utilize para refletir sobre seus destinos e recolocar a nau na direção correta.

Forte Abraço,

Wednesday, May 30, 2007

Homenagem a elas!


Após ter concluído praticamente tudo,
o Criador notou que algo faltava....

Na beleza da natureza,
Na suavidade dos campos,
Na serenidade das águas,
No calor do fogo,

Na força dos ventos,
Na grandeza das montanhas,
Na determinação dos trovões,
No perfume das flores,

Na delicadeza das aves,
Na sensibilidade das borboletas,
Na alegria dos filhotes,
No cuidado com as crias,

Faltava a mulher!!!

E, dentre elas, você é a mais especial.

Feliz Dia Internacional da Mulher - 2007.

Monday, February 12, 2007

O porquinho Tóti

Uma de minhas tias morava em um sítio em Mogi das Cruzes (estado de São Paulo), continuando sua vida rural de infância. Meu pai, muitos anos antes, havia vindo para o município de São Paulo, deixando a vida na roça e o trabalho de ‘bóia-fria’ na Fazenda Amália, da família Matarazzo, no interior de São Paulo, região de Ribeirão Preto.

Como havia tempo que eles não se viam, fomos visitá-los; meu pai, minha irmã e mais um amigo ‘japonês’ de meu pai, chamado Maquio.

Foi uma experiência incrível, a primeira marcada em minha memória, um garoto de 6 anos, criado sem permissão de sair à rua e que, sem a proteção da mãe, descobre uma nova realidade: primos da mesma idade sujos de terra, de pés descalços, com o rosto marcado pelos restos de alguma fruta e alegres, muito alegres, de tanto brincar pelo ‘terreiro’.

Maquio nos leva a uma caminhada exploratória pelo terreno desconhecido, onde despontam muitas flores e plantas de nomes estranhos, bichos voadores que nos ‘atacam’ (moscas, borboletas etc.) e, após caminhar entre os patos, descobrimos, numa parte baixa do terreno, uma criação de porcos.

E, lá estava ele, o Tóti: um leitãozinho, de narizinho furado à frente e esperto, muito esperto... Enquanto seus irmãos caminhavam ao lado da ‘porca-mãe’, ele corria desenfreado, pulava, caia, rolava, parecia ter uma vivacidade própria, uma personalidade diferente dos demais.

Maquio consegue pegá-lo e, com uma pequena varinha, começa a coçar-lhe a barriga, enquanto o Tóti, de pernas pro ar, se aquieta e desfruta do carinho repentino.

Assustados, porém ansiosos, eu e minha irmã nos revesamos na tarefa de esfregar a varinha nele e passamos algum tempo nos divertindo como nunca.

Meu pai nos conta como fazia a mesma coisa muitos anos antes e nos surpreende dizendo que levaríamos o Tóti para casa, não para brincarmos com ele, mas para nos servir de ceia no Natal, seis meses distante.

Foi uma alegria só naqueles dias, dando de comer a ele, observando seu comportamento, seu crescimento e o ‘praguejar’ de minha mãe pela sujeira e as moscas no quintal cimentado de casa.

Interessante como os animais, penso que qualquer um deles, principalmente os também pequenos, entendem as crianças. Conversava com ele, passávamos horas juntos, bastava ele me ver que corria pelo pequeno chiqueiro improvisado.

Porém o dia esperado chegou, num misto de tristeza pela perda do amigo e de expectativa em ver como se ‘matava um leitão’, segundo dizia meu pai, de cima de toda a sua afamada experiência no ato. Dizia ele que, com uma facada certeira, sob a pata esquerda dianteira, atravessando o peito, se atingiria o coração e, então, quase indolor, o pequeno animal morreria ‘tranquilamente’.

Para evitar o trauma inevitável, minha mãe levou minha irmã menor à casa de uma outra tia e eu fiquei para acompanhar papai e aprender como se faria o sacrifício e a preparação para o assamento, que se deu no forno de uma padaria, previamente negociado por meu pai.

Tóti foi retirado do pequeno chiqueiro e trazido para perto de um ralo, por onde deveria escorrer o sangue do pobre coitado. Uma faca bem afiada foi empunhada e o animalzinho, talvez como que percebendo seu destino, fez um olhar doce em minha direção.

Um enorme silêncio se fez e vi a faca descendo pelo ar, quando... Tóti começou a gritar. Foi horrível assistir aquilo, meu pai transtornado pela decepção, passa a esfaquear o peito do pequeno porquinho, que berrava em desespero.

Não conseguia acreditar na cena, pensando que talvez ele não tivesse coração ou que, de tão bonzinho, seu coração fosse enorme que não se conseguiria parar...

De repente, novamente o silêncio, meu pai suado, com as mãos sujas de sangue, comenta espantado a resistência do bichinho e eu, bem, somente olhava para o pequeno animal, agora imóvel ali no chão.

Todo um ritual se seguiu para abri-lo, limpá-lo, assá-lo, até que à mesa se postou, ainda com olhar meigo, mas sem vida.

Creio que o Tóti não morreu, mas partiu para algum lugar onde ficam os corajosos, os destemidos, aqueles que enfrentam o momento final com bravura e não se rendem às evidências da não-existência.

Talvez nunca mais o veja, mas não preciso, pois levo comigo sua presença na lembrança que, de tão boa, por vezes me faz ouvir suas brincadeiras ao meu lado.

Friday, November 10, 2006

Minha florzinha!

Plantei uma sementinha

Que virou uma florzinha


Todo dia ela se abria

Seu perfume espalhava

A todos ela brindava

Com o sorriso que oferecia


Com ela gostava de brincar

Ia e vinha carregando

No colo sempre sonhando

O que o futuro ia nos dar


Por isso dela cuidava

Todo dia a alimentava

Procurando com ela estar

Sua meiga presença desfrutar


Um dia veio um zangão

Que levou minha florzinha


Agora vivo a pensar

Onde estará minha florzinha

Que um dia tão pequeninha

Eu vi desabrochar.